A Portaria número 3237, de
dezembro de 2007, do Ministério da Saúde, está incluindo os medicamentos
homeopáticos que integram a Farmacopéia Homeopática Brasileira e dois
fitoterápicos (espinheira santa e guaco), na rede SUS (Sistema Único de
Saúde), em conformidade com o que recomenda a PNPIC (Política Nacional
de Práticas Integrativas e Complementares). Pode ser o início de uma
transformação significativa que atingirá, desde o ponto de vista do
gestor, dos profissionais da saúde e da população, até a terapêutica; da
saúde em si aos cofres públicos, e tocará em raízes mais profundas,
aquelas que vão dar na questão da cidadania. A inclusão da homeopatia,
no SUS, é um sonho dos homeopatas e do Conselho Federal de Farmácia (CFF).
A inclusão chega acompanhada de uma pergunta: "e agora?". Afinal, não há
um número suficiente de profissionais homeopatas, no SUS. Quem responde
à pergunta e aponta os caminhos para o setor enfrentar este que é um dos
maiores desafios de sua história, no Brasil, é a Presidente da ABFH
(Associação Brasileira de Farmacêuticos Homeopatas), a Dra. Márcia
Aparecida Gutierrez. Farmacêutica formada pela USP (Universidade de São
Paulo) - campus de São Paulo -, Márcia Gutierrez é especialista em
Homeopatia, Diretora Técnica de uma farmácia homeopática, em São Paulo,
e professora do curso de especialização do Instituto de Cultura
Homeopática, na capital paulista. VEJA A ENTREVISTA.
PHARMACIA BRASILEIRA - Quantos medicamentos homeopáticos serão
disponibilizados à população? E que doenças poderão ser tratadas com
eles?
Dra. Márcia Gutierrez
- Aos poucos, felizmente, a PNPIC (Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares) vai se implantando, graças ao apoio de
parceiros empenhados em vê-la consolidada. Um desses parceiros é o
Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos do
Ministério da Saúde - o DAF.
Por empenho do DAF, o Ministério da Saúde, no final de 2007, publicou a
Portaria 3237, que define o elenco de referência dos medicamentos e
insumos do componente básico da Assistência Farmacêutica. Traduzindo,
trata-se da lista de medicamentos prioritários à atenção básica à saúde
e compõe a Rename (Relação Nacional de Medicamentos).
Nessa Portaria, como conquista do DAF, foram incluídos dois medicamento
fitoterápicos (Maytenus ilicifolia - espinheira santa, e Mykania
glomerata - guaco) e medicamentos homeopáticos contidos na Farmacopéia
Homeopática Brasileira 2ª. Edição. Estamos falando de cerca de 450
medicamentos homeopáticos. Esse número se amplia, e muito, quando
pensamos em todas as escalas e potências possíveis para cada um deles.
A Portaria registra a homeopatia, como ela acontece, no Brasil, ou seja,
ela não está presa a poucos medicamentos ou formulações que engessam as
possibilidades de prescrição do médico. Ao contrário, ela garante que o
homeopata brasileiro pode, também, no SUS, desenvolver a homeopatia que
se faz, no Brasil.
PHARMACIA BRASILEIRA - E as doenças, quais poderão ser tratadas com
esses medicamentos?
Dra. Márcia Gutierrez
- Para responder sobre as doenças que os medicamentos poderão tratar,
precisamos explicar que a homeopatia não trata a doença e, sim, o
doente. Na homeopatia, não existe um medicamento, por exemplo,
antiinflamatório. O médico homeopata, diante de um processo
inflamatório, dentre outras orientações possíveis, poderá prescrever um
medicamento que atenda às características deste paciente, nesse
processo.
Por exemplo, há dois pacientes com um processo inflamatório no ouvido em
uma queixa comum: a dor. Contudo, na anamnese, o médico vai encontrar
sintomas que os diferencia. Um pode ter dor latejante, pulsante,
enquanto o outro relata uma dor cortante. Um manifesta que a dor é
sazonal e, sempre, acontece no mesmo ouvido. O outro fala que ela pode
ocorrer, em momentos diversos e alterando os lados.
Sintomas mentais relacionados ao processo inflamatório, também, podem
ajudar a diferenciar os pacientes, como depressão e tristeza, durante a
dor, e irritação ou agitação no outro. Assim, a prescrição do
medicamento atenderá a totalidade sintomática do paciente e não só sua
queixa principal. Dois pacientes com inflamação de ouvido podem, na
homeopatia, receber medicamentos diferentes.
Isto tudo é para dizer que não é possível listar as doenças tratadas por
homeopatia, pois todas as pessoas podem ser tratadas. Existem limites,
como existem limites em todas as terapêuticas.
PHARMACIA BRASILEIRA - Que benefícios a homeopatia trará, tanto
para a rede pública, quanto para a população?
Dra. Márcia Gutierrez
- Os números do SUS são, sempre, de grandes dimensões. Ao pensarmos que
150 milhões de pessoas são clientes do SUS, todo o custo que puder ser
reduzido é significativo e pode trazer mudanças no fluxo de atendimento.
Comparado a muitos medicamentos alopáticos, hoje, adquiridos pelo SUS,
medicamentos homeopáticos têm custo reduzido, mas esta não é a maior
economia. A experiência na clínica homeopática mostra que o sucesso
terapêutico na homeopatia está na restauração de um estado de equilíbrio
do paciente, que evitará o seu retorno, por diferentes queixas
relacionadas, ao mesmo mal. Menos retorno, menos custo, menor demanda,
maior possibilidade de melhoria na qualidade do atendimento.
Todo sistema de saúde tem, sempre, uma equação difícil de ser resolvida:
oferecer um bom serviço a baixo custo. Já para o paciente, e isto é o
que de fato deveria ser o mais importante, os benefícios são muitos.
Gostaria de ressaltar a mudança cultural que um tratamento homeopático
pode causar na vida de um paciente. Diferente da medicina convencional,
a homeopatia não está fundamentada, centralizada no medicamento. O foco,
e centro da atenção do médico homeopata, são o paciente e sua condição
de adoecimento.
Diferente ainda da medicina convencional, que se prende ao medicamento,
na homeopatia, o medicamento é uma das possibilidades dentro do
tratamento. A homeopatia é uma medicina holística. Então, medicamento
homeopático ou não, não será efetivo, se outros fatores que favorecem os
estados de desequilíbrio não forem corrigidos ou reorientados.
Esta atenção com o paciente, quando absorvida por ele, será útil para
uma vida inteira. A auto-observação, fundamental no tratamento
homeopático, permite que o paciente saiba que caminhos o levam a um
estado de doença, ou os mantêm em estado de saúde, de equilíbrio.
PHARMACIA BRASILEIRA - O medicamento homeopático é menos
vulnerável a reações adversas e a interações, suscita menos a prática do
uso irracional, e a adesão do seu usuário ao tratamento é maior. A
senhora pode falar desses benefícios?
Dra. Márcia Gutierrez
- Existem duas grandes qualidades do medicamento homeopático que
precisam ser ressaltadas, que são a sua segurança e a sua eficácia.
A segurança se dá, porque são utilizadas ultra-diluições das substâncias
que deram origem ao medicamento. Ou seja, não existem riscos de
intoxicação, superdosagem etc. Contudo, o uso inadequado pode, sim,
mascarar sintomas, ou levar a interpretações erradas quanto à evolução
do paciente, diante do tratamento.
Assim, medicamentos homeopáticos não ficam dispensados de uma prescrição
feita por profissional habilitado e de uma atenção farmacêutica que
poderá guiar o paciente para a melhor conduta a ser tomada, durante o
tratamento.
Sua eficácia depende, também, obviamente, da correta indicação. O médico
homeopata, se receber as informações necessárias por parte do paciente e
dispõe do arsenal terapêutico adequado, conseguirá sucesso em sua
clínica e isto é o que temos presenciado, ao longo dos anos, e do
contato direto com paciente de homeopatia.
PHARMACIA BRASILEIRA - Os medicamentos dispensados nas farmácias
da rede SUS precisam ser prescritos pelos médicos. Há médicos homeopatas
em número suficiente para atender a toda a população?
Dra. Márcia Gutierrez
- A homeopatia é uma especialidade reconhecida pelo CRM (Conselho
Regional de Medicina) e pelo CRMV (Conselho Regional de Medicina
Veterinária). Assim, apenas estes profissionais e, também, os
odontólogos podem prescrever medicamentos homeopáticos. Também, os
farmacêuticos têm a especialidade em homeopatia reconhecida pelo CFF.
Uma farmácia que manipula medicamentos homeopáticos necessariamente deve
ter inscrito no CRF um profissional especialista em homeopatia, de
acordo com a Resolução 440/CFF.
Sobre médicos, no SUS, temos alguns dados recentes que nos ajudam a
perceber o bom desafio que temos pela frente. Estima-se que, no Brasil,
existam, hoje, 15.000 médicos homeopatas, mas apenas cerca de 500 deles
estão, no SUS, exercendo homeopatia. Isto é muito pouco, já que o SUS
anualmente realiza 1 bilhão e 300 milhões de atendimento e destes
250.000 são em homeopatia.
O Brasil tem cerca de 5500 Municípios e apenas 157 deles oferecem
homeopatia, nos centros de saúde. Concluindo, existe um grande passo a
ser dado em número de atendimento em homeopatia que necessitará de um
maior número de médicos homeopatas atuando no SUS. Embora não apareçam
nesse senso apresentado, eles existem e podem ser deslocados para
atendimento no SUS. Este é um dos detalhamentos a serem feitos na
política.
O número de farmácias homeopáticas, no SUS, também, não é adequado à
necessidade que se aproxima. Será necessário encontrar formas de
viabilizar o acesso ao medicamento homeopático, seja na forma de
parceria com a farmácia privada, seja na construção da farmácia
homeopática pública, do laboratório industrial homeopático para o
atendimento, no Estado, ou todas estas alternativas juntas. O importante
é que, para todas elas, o farmacêutico homeopata é fundamental.
Uma boa notícia é que, no NASF (Núcleo de Atenção à Saúde da Família),
farmacêuticos e médicos homeopatas estão incluídos e já há uma demanda
do Ministério da Saúde / DAF para um programa de formação e
profissionais homeopatas para o SUS.
Há um reflexo deste processo, que, a médio ou longo prazos, deverá
ocorrer. Hoje, 70% dos profissionais médicos que se formam na
Universidade são direcionados para trabalho no SUS. As faculdades de
Medicina não formam homeopatas e nem médicos fitoterapeutas. Reitores
devem estar atentos para o fato de que para formar um profissional
médico preparado para o SUS, deverá formá-lo, também,
nestas especialidades. Havendo esta formação, na academia, grupos de
pesquisa se formam e uma nova cadeia de conhecimento será gerada.
PHARMACIA BRASILEIRA - Outro problema - e com a mesma dimensão -
é o seguinte: o modelo de farmácia homeopática, no Brasil, é
individualizado e não em série. Ou seja, cada medicamento é produzido
para um determinado paciente. O que os farmacêuticos, que são
responsáveis pela produção e dispensação dos medicamentos, irão fazer
para atender a uma demanda tão grande, no SUS?
Dra. Márcia Gutierrez
- O gestor poderá adquirir medicamentos homeopáticos industrializados e
esta é uma prática comum na aquisição de medicamentos alopáticos. No
Brasil, existem laboratórios produtores de medicamentos homeopáticos.
Contudo, a manipulação homeopática deverá ser muito solicitada pelo SUS,
até pelas características da prescrição e da terapêutica.
Houve algumas experiências de sucesso em que o gestor optou pela
implantação de uma farmácia pública homeopática (Juiz de Fora, São Paulo
e Porto Alegre são alguns exemplos). Imaginamos que os pequenos centros
deverão optar pela parceria com a farmácia privada. A Resolução 67, que
trata das Boas Práticas de Manipulação, é exigida, também, com a
farmácia pública, que poderá encontrar uma barreira econômica para se
adequar.
A farmácia privada já tem um sistema de BPMFH (boas práticas), por
exigência legal, ou seja, já se encontra em condição de produzir, com
menor custo, ao Estado.
Na ausência de fornecedores de medicamentos industrializados, o
Município poderá adquirir medicamentos homeopáticos e/ou fitoterápicos
manipulados, de acordo com o item 5.10 da RDC número 67/2007 (anexo1):
"em caráter excepcional, considerando o interesse público, desde que
comprovada a inexistência do produto no mercado e justificada
tecnicamente a necessidade da manipulação, a farmácia poderá ser
contratada, conforme legislação em vigor, para o atendimento de
preparações magistrais e oficinais, requeridas por estabelecimentos
hospitalares e congêneres".
O farmacêutico homeopata deve estar bem atento a tudo isto e manter a
sua farmácia, os seus colaboradores e toda equipe bem ajustados para um
período de muita atividade no setor de manipulação homeopática. É bom
lembrar que a preparação de medicamentos homeopáticos envolve uma
técnica simples, o que é um fator muito positivo e facilitador na sua
elaboração.
Contudo, a qualificação de fornecedores, a padronização de técnicas e o
controle de processo magistral homeopático (não se espante, pois isto
existe e é aplicável à homeopatia) são as garantias da qualidade do
medicamento.
PHARMACIA BRASILEIRA - O aumento repentino da demanda e a
possibilidade de um não atendimento integral por parte dos farmacêuticos
facilitariam a exploração da produção de homeopáticos e mesmo de
serviços por aproveitadores ou por charlatães? A ABFH está atenta a esse
risco iminente?
Dra. Márcia Gutierrez
- Muita coisa foi construída, nos últimos anos, nesse sentido, pela ABFH
(Associação Brasileira de Farmacêuticos Homeopatas), pelas Associações
Regionais, por grupos de pesquisa em Homeopatia e pela FHB (Farmacopéia
Homeopática Brasileira). Todos que estiverem interessados neste caminho
precisam estar atualizados.
A farmácia e o farmacêutico podem acelerar este processo, envolvendo-se
nas ações de divulgação da PNPIC, ou apenas contando aos cidadãos sobre
o seu direito garantido pela política.
A ABFH prima pela defesa da Homeopatia e do farmacêutico homeopata. Ao
longo destas quase duas décadas de existência, vem acompanhado a
evolução do segmento de farmácia magistral e sabe que a farmacotécnica
homeopática e os processos magistrais homeopáticos devem acompanhar este
momento em que a qualidade deve estar presente em todas as etapas do
processo, seja da escolha dos insumos utilizados, qualificação dos
fornecedores, aprimoramento e padronização da técnica, até a atenção
farmacêutica em homeopatia, em que os reais conhecimentos em Homeopatia
por parte do farmacêutico são testados e são fundamentais na adesão do
paciente ao tratamento. A ABFH está envolvida em projetos que facilitem
a inclusão do farmacêutico homeopata nesse processo.
PHARMACIA BRASILEIRA - A entrada da Homeopatia, no SUS, é
resultado da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
(PNPIC), criada pela Portaria 971/2006, do Ministério da Saúde. O que
significa esta política?
Dra. Márcia Gutierrez
- A homeopatia está, oficialmente, no SUS, graças à PNPIC. A Política é
uma recomendação feita aos gestores de saúde, em todas as esferas, ou
seja, municipal, estadual e federal, para que disponibilizem atendimento
em saúde à população por práticas antes não previstas, como a
fitoterapia, a homeopatia, a acupuntura e outras.
Contudo, esta Portaria deve gerar conseqüências e estas conseqüências é
que estão para acontecer. Muitas iniciativas devem ser tomadas, a partir
da política para a implantação deste novo serviço, mas a política não as
prevê. Os gestores não sabem como implantar, que recursos estarão
disponíveis e até mesmo quais serão necessários.
A Política descreve diretrizes, mas não define o quanto será investido
para o seu desenvolvimento. Entende-se que este segundo momento da
política acontecerá, quando houver demanda. Então, agora, a população, o
cidadão e usuário do SUS deve saber que ele tem direito a escolher por
uma terapêutica diferente da convencional (alopática) e o Estado o dever
de prover-lhe.
PHARMACIA BRASILEIRA - A ABFH criou um programa de qualificação
para farmácias e farmacêuticos homeopatas. O programa foi produzido,
levando-se em conta este momento de expansão da produção?
Dra. Márcia Gutierrez
- O aumento na demanda por homeopatia deve ocorrer, num tempo muito
curto, e insistimos que será bom que todos os interessados estejam
preparados. O setor magistral qualificou-se muito, nos últimos anos, e a
homeopatia acompanhou esse movimento de qualidade.
Contudo, existem peculiaridades na homeopatia que nos diferenciam da
manipulação alopática, mas que também exigem soluções diferenciadas.
Por exemplo, o controle de qualidade de matérias-primas utilizadas na
alopatia em geral pode ser encontrado em farmacopéias e compêndios
especializados.
Como realizar controle de qualidade de matrizes homeopáticas? Como
assegurar a qualidade de matrizes homeopáticas em estoque, por anos, em
nossas farmácias? A ABFH estabeleceu um protocolo de análise de
matrizes, que concentrará dados, em nível nacional, permitindo que, a
partir deles, possamos definir prazo de validade, condições ideais de
armazenamento e conseqüentemente prazo de validade.
Este é um dos componentes do Qualihfarma, que deverá, ainda, contemplar
a educação continuada à distância e a qualificação de fornecedores. A
primeira parte deste programa que trata do controle de qualidade já está
em andamento e os interessados podem procurar a ABFH para maiores
informações.
PHARMACIA BRASILEIRA - Como a senhora avalia a qualificação dos
farmacêuticos homeopatas brasileiros?
Dra. Márcia Gutierrez
- O farmacêutico homeopata brasileiro tem uma oportunidade de
desenvolvimento de trabalho que é invejada por boa parte dos
farmacêuticos homeopatas do restante do mundo. Aqui, manipulamos,
mediante prescrição e com toda a individualização necessária para o
atendimento das necessidades do paciente.
Mesmo havendo espaço para o medicamento homeopático industrializado,
temos uma escola de Homeopatia que ensinou ao médico uma prescrição
muito precisa. Mais que isso, com essa liberdade prescritiva e a
disposição das farmácias no aviamento dessas prescrições, permitiu que
muitas inovações, na clínica homeopática, pudessem ocorrer.
Temos uma experiência em homeopatia que deveria ser melhor divulgada
para o mundo. Uma colega costuma dizer que só não nos conhecem mais, por
causa da língua. Embora exista uma produção científica em Homeopatia,
seus resultados chegam pouco, em outros países, e, assim, não há muito
troca.
Sim, o farmacêutico homeopata encarou, ao longo dos últimos 20 anos, uma
série de desafios e vem passando por eles, de forma elogiável, com o
objetivo de manter a homeopatia em alto nível de qualidade e de
eficácia. O farmacêutico homeopata sabe que a qualidade do medicamento
homeopático não pode ser um viés dentro do tratamento.
PHARMACIA BRASILEIRA - Quando, enfim, teremos um país
homeopatizado?
Dra. Márcia Gutierrez
- Acho que, a partir da aprovação da Política, podemos dizer que temos a
possibilidade de homeopatização. Interessante esse processo, pois,
agora, é a vez de o cidadão manifestar-se em favor de um direito
garantido pela política: o direito de acesso à homeopatia, à fitoterapia,
à acupuntura e a outras terapias.
Este exercício de cidadania certamente eleva o nível de consciência da
população sobre o seu papel na sociedade e nas mudanças possíveis.
Na homeopatia, esta é uma
das expectativas que
aceleram um processo de cura.
O auto-conhecimento que se adquire, a partir da auto-observação, permite
que o indivíduo, ao longo do tempo, descubra que possibilidades ele tem
de adoecer, de evitar que isto ocorra e até de se curar. É, quase
sempre, uma questão de escolha. Neste momento de homeopatização do País,
estamos diante das possibilidades. Precisamos conquistá-la, demonstrando
o interesse.
PHARMACIA BRASILEIRA - Que papel terá o farmacêutico homeopata
nesse contexto de transformações que sacodem o SUS?
Dra. Márcia Gutierrez
- O farmacêutico, como profissional de saúde, homeopata ou não, não pode
omitir-se, diante da não implantação da Política. Justificada a sua
presença, no SUS, passa a ser um direito da população e devemos
facilitar o acesso a ela, assim como as demais terapêuticas que deverão
ser disponibilizadas.
Os homeopatas em especial devem envolver-se, pois existem benefícios
indiretos importantíssimos garantidos pela Política. Acredita-se que 70%
dos médicos formados pelas faculdades de Medicina, hoje, são
direcionados ao trabalho no SUS. A partir do momento em que o SUS
necessita de médicos homeopatas, estes profissionais passam a exigir que
as faculdades os formem, também, para esta especialidade.
Uma vez implantada a cadeira de Homeopatia, nas faculdades de Medicina,
como parte integrante da formação do médico, núcleos de pesquisa se
formam e verbas à pesquisa em Homeopatia (garantidas pela política)
devem, também, ocorrer. O farmacêutico homeopata deve estar atento,
garantindo a sua participação em todo este processo, gerado, a partir
deste novo momento.
Eu gostaria de completar esta oportunidade, dizendo que a PNPIC é
conseqüência do estado democrático em que vivemos. Não é possível que
terapêuticas que contribuam para a qualidade de vida da população cuja
eficácia e segurança são pontos fortes, cujos conhecimentos fazem parte
da história do País e do conhecimento popular, no caso da fitoterapia,
fiquem restritas a consultórios particulares e conseqüentemente ao
alcance apenas da minoria.
No momento, temos a oportunidade de exercitar nosso direito dentro desse
modelo democrático, exigindo que ela saia do papel, da teoria e se
efetive, para que possa ser escolhida por aquele que pretende ser
tratado por ela. Acho que a manifestação dessa vontade é, também, um
exercício democrático próprio de um estado de direito.
Uma forma de manifestação é a assinatura do abaixo assinado coordenado
pela ONG Ação pelo Semelhante, intitulado Homeopatia Direito de Todos,
que pode ser feito em farmácias homeopáticas (muitas já disponibilizaram
para população) ou mesmo por meio eletrônico, através do site
www.semelhante.org.br.
PHARMACIA BRASILEIRA - Dra. Márcia, a Política recomenda, mas não
obriga, que os Municípios incluam a homeopatia na saúde pública. Qual a
sua expectativas sobre a adesão dos Municípios à homeopatia?
Dra. Márcia Gutierrez
- Como homeopata, a minha vontade de ver efetivado o atendimento em
homeopatia aos usuários do SUS é muito grande. Contudo, vale repetir
quantas vezes forem necessárias, que a Portaria é uma recomendação que
permite e dá liberdade ao gestor para a inclusão da homeopatia e demais
terapêuticas previstas pela política no rol de atendimentos. Daí até a
sua implantação, algumas ações devem acontecer.
Imaginemos cada um de nós como administrador de um negócio, seja ele do
ramo de atividade que for. Um administrador de visão normalmente se
antecipa diante das tendências, sempre que possível. Sai à frente do
negócio e se destaca aquele que se antecipa, aquele que é pró-ativo.
Outros aguardarão a tendência se concretizar, em moda ou atualidade,
para, então, a incorporarem ao negócio. Nesta comparação, temos exemplos
de gestores que já oferecem a homeopatia e que vêm se ajustando quanto
ao acesso ao medicamento, além de outras medidas.
Muitos, e talvez a maioria dos gestores, aguardarão que um movimento
popular os cobre por isto. Não é uma crítica, é um fato. A demanda do
SUS é algo assustador em números. Então, claro, o gestor acaba
priorizando.
Um colega farmacêutico que já foi gestor e, hoje, ocupa cargo no
Ministério da Saúde já revelou publicamente que o maior trabalho do
gestor, atualmente, está em acelerar processo de aquisição de
medicamentos por ordem judicial. Esta é uma grande demanda atual e que
ocorre por um movimento popular. A população sabe que, a partir de uma
determinação da Justiça, o Estado deve atender à sua necessidade de
medicamento. Então, ela exercita esse seu direito.
Com a homeopatia acontecerá o mesmo. Se a população souber os benefícios
que podem ocorrer em sua saúde, a partir de um atendimento em homeopatia
e que este atendimento pode ser disponibilizado, nos centros de saúde,
poderá mover o gestor a buscar por esta terapêutica.
PHARMACIA BRASILEIRA - E quem será o maior interessado em
divulgar os benefícios da homeopatia e em cobrar a sua inclusão, no
serviço público, pelos gestores municipais?
Dra. Márcia Gutierrez
- Bem, acredito que todo profissional de saúde que conhece os benefícios
da homeopatia e sua aplicabilidade serão defensores da sua
disponibilização, no SUS. Mas aposto mesmo em um movimento dos
homeopatas. Afinal, depois da população, devido à qualidade de saúde que
terá, estes serão os beneficiados diretamente com esta ampliação da
homeopatia.
Os farmacêuticos, pelo campo de trabalho expandido, já que certamente as
parcerias com o Estado, em pequenos centros, serão fundamentais para a
sua efetivação e a garantia de acesso ao medicamento. O clínico
homeopata, por sua vez, poderá desenvolver a sua clínica na atividade
pública que, normalmente, já faz parte de sua atividade profissional.
Isto amplia a sua experiência e cria maior movimentação na clínica
particular. As entidades devem esclarecer os seus profissionais sobre
este assunto, mas os profissionais devem também estar informados.
A ABFH tem disponibilizado para os seus associados um kit para que eles
o divulguem. Os interessados em divulgá-lo, em suas farmácias, podem
fazer contato com a nossa secretaria, em São Paulo, pelo telefone
(11) 5574-5278 ou
pelo e-mail abfh@abfh.com.br
■ Nota da redação: o e-mail da Dra. Márcia Gutierrez, Presidente da
ABFH, é
marcia@sensitiva.com.br
Fonte: CFF
http://www.cff.org.br/cff/mostraPagina.asp?codServico=67&codPagina=817
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