Autor: Dr. Luiz Figueira Pinto
Diretor da Revista Homeopatia Brasileira do
Instituto Hahnemanniano do Brasil
Uma das características da sociedade pós-moderna é a individualidade do
Ser.
A necessidade de vencer a qualquer custo, de ser melhor que o outro, de
ter o que o outro não tem, é imposta ao individuo de forma constante,
desde os níveis escolares iniciais até o mercado de trabalho. A mídia
estabelece padrões de comportamento consumista, estimulando um desejo de
acumulação e passando uma falsa idéia ao indivíduo de que quando se tem
algo se tem a felicidade e se é bem sucedido. A estratégia deles é a de
induzir a uma sensação de que nunca é suficiente o que se tem, sabendo
que o individuo necessita se auto-identificar e de se situar no
universo. É desta forma que a industria atinge níveis elevados de
produção e, hipocritamente, simula um objetivo público de levar o
progresso em uma dada comunidade ou país, como um ato governamental
paralelo. Atualmente, a expressão máxima da individualidade do ser pode
ser representada pela posse de patentes pelas industrias. O homem agora
possui até a natureza. Ele esta se tornando dono das sementes, das
plantas, dos insetos, dos minerais, e até dos genes das espécies. É só
dele e de mais ninguém. Para se usufruir tem que pagar.
Esta forma de ser do homem pós-moderno, imediatista, superficial, que
celebra o efêmero e o irrelevante, tem implicado no esvaziamento das
relações humanas autenticas, na ruptura com o coletivo e o passado e no
descompromisso com o futuro. Isso pode ser resultante do pensar
fragmentado que leva o homem a se sentir separado do todo por não
compreender que a unidade do ser constitui diversos planos de unidade,
em forma de uma rede integrada, que vai da unidade da célula à unidade
dos seus órgãos, que constitui a unidade do seu corpo, que por sua vez
se integra na unidade de um grupo, na unidade de uma sociedade, na
unidade do planeta. Como um holograma, cada célula possui genes para
construir um organismo e o organismo é constituído por células, ou seja,
as partes contêm o todo e o todo contém as partes.
O reducionismo cartesiano proporciona por si próprio a individualidade,
a perda de identificação com o grupo e com o meio ambiente. Isso
possivelmente contribui para a disseminação da violência, da banalização
da transgressão dos direitos humanos em detrimento da solidariedade e
dos vínculos afetivos entre as pessoas.
A ciência ortodoxa vem contribuindo de forma significativa para este
comportamento do homem atual, por apresentar um determinismo e negar a
existência do acaso e da desordem no universo, e do não reconhecimento
de que estes levam a níveis organizacionais integrados e a
auto-regulação, fundamental para a existência da vida. O mais grave de
tudo é a ciência médica convencional empregar as mesmas ferramentas das
outras áreas do saber, reduzindo o homem a números e isolando cada
função orgânica como independente de todas as demais. A medicina do
homem moderno tornou-se a medicina do fígado, do coração, do osso, dos
vasos sanguíneos, e de qualquer parte do corpo. Menos a do homem como
uma unidade, como um todo. A ação médica representada pela intervenção
terapêutica da medicina moderna demonstra a ignorância sobre a
existência da integração funcional como pré-requisito da auto-regulação,
fundamental para a unidade do ser e de sua integração com o meio
ambiente. Possivelmente, o desvio na história da sociedade ocidental
ocorreu no momento em que a ciência resolveu desprezar a existência de
um principio vital, imaterial, que regula de forma harmoniosa o ser.
A desfragmentação da unidade do ser, como resultante do convívio em uma
sociedade individualista, tem acarretado em níveis crescentes de
violência e de distúrbios mentais na população em todo o mundo, conforme
revelado pela Organização Mundial de Saúde. A perda da qualidade de vida
ou da própria vida por crimes, acidentes de transito, suicídio,
depressão, neuroses, transtornos do pânico, esquizofrenias ou outras
psicopatias, já atingem níveis de ocorrência alarmantes na população em
geral, sinalizando a situação atual da sociedade capitalista moderna.
A unidade do Ser depende da funcionalidade harmônica entre os
componentes de cada célula e o meio circundante. E quando há integração
funcional entre todas as células do organismo o individuo apresenta um
verdadeiro estado de saúde, uma sensação de bem estar. Esta sensação é
proporcionada por uma energia vital, fruto da função nervosa superior,
que integra todo o organismo coletando informações e enviando mensagens,
por meio dos receptores celulares. Quando cada célula do corpo funciona
adequadamente as condições do meio interno, que lhe circunda, se tornam
ideais. E, de modo recíproco, quando são fornecidas condições ambientais
ideais as células podem funcionar adequadamente. Isso é constantemente
monitorado pelo sistema nervoso. Esta integração celular harmônica
resulta em uma sensação de bem estar, em um estado de felicidade e de
paz interior, o que permite ao individuo realizar as mais nobres ações,
representadas pela confraternização, doação, cuidado com o próximo e o
meio ambiente. Cria-se com isso novos níveis de unidade.
O medicamento homeopático pela sua natureza energética, imaterial, atua
na energia vital do organismo, fornecendo o estimulo regulador adequado
que permite ao organismo manter a sua integração funcional. A unidade
medicamentosa se retrata na unidade do ser, a unidade orgânica. Com
isso, a pratica da medicina homeopática representa para a sociedade o
ponto de difusão para a integração do ser na sociedade e o resgate da
valorização da natureza.
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